REABILITAÇÃO E REENCONTRO

Viver em situação de rua nem sempre é uma escolha, como já vimos outras vezes, são vários os fatores que levam alguém a essa condição. Porém também tem aquelas pessoas que chegando neste contexto se acostumam e fazem disso sua forma de viver e se manter, deixam de lutar pela mudança, se acomodam com o quadro criado por ela mesma, e não percebem que com o passar dos anos se envelhece, adoece, o corpo passa a não responder mais como no princípio. Neste momento se inicia uma nova trajetória de vida. Doente pelo mau trato do corpo e por muitos anos do uso de álcool e drogas, má alimentação, falta do descanso apropriado o corpo começa a dar sinais de que não consegue mais permanecer na rua. Acontecem então casos de AVC, overdoses, redução muscular, doenças que se tornam crônicas e até mesmo a perca de membros em decorrência da falta de cuidados apropriados. É preciso então passar pela reabilitação.

Chega então o momento do reencontro…

Reencontro com a família que por anos foi deixada para trás, mas agora precisando de cuidados, alguns vão atrás da família, outros através do serviço da assistência social.  Muitas vezes a família não aceita, porque quando ela quis ajudar foi ignorada, talvez não exista mais ninguém a esperar por esse retorno. Em outras situações a família está lá de prontidão para receber, esperou por esse dia a anos, acolhe o seu ente querido mesmo sem condições de fazer muita coisa por ele. E os que infelizmente não encontram apoio familiar, vivem o reencontro consigo mesmo. Aí vem o questionamento, O que eu fiz com a minha vida?

Para estes restam hoje depender de pessoas para resolver sua vida, para procurar lugar onde eles possam permanecer e que tenham pessoas disponíveis para cuidar deles, não é uma tarefa fácil, com isso vem as doenças psicológicas, a depressão o desejo de não mais existir.

Realidade presenciada constantemente na casa Madre Teresa. Alguns casos:  A.L.S de 45 anos, a 10 anos nas ruas sofreu uma redução muscular pelo excesso do uso das drogas, ficou meio paralisado, sua família foi localizada e o recebeu de volta, o pai esperou por anos para recebê-lo. M.A.J, 51 anos passou muitos anos fazendo uso de cocaína sendo diabético, teve uma perna amputada, a única pessoa da família que podia cuidar dele é uma irmã que também doente não possui condições de cuidar dele, então estava vivendo embaixo de um viaduto, agora na luta de encontrar um lugar onde possa ser acolhido, pois não tem perfil para alguns serviços. P.R. 55 anos passou mais de 20 anos com o pé machucado pelas ruas, nunca fez o tratamento adequado, preferia trocar tudo pela cachaça, agora com o pé amputado se pergunta, por que não me cuidei?

E nós?! Será que também não precisamos de reabilitação e reencontros? O que estamos fazendo com nossas vidas? Fica a reflexão.

Valdinete Ferreira

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