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O Natal e o início de um novo ano sempre reascendem em todos a esperança. Nestes tempos difíceis em que estamos vivendo, nos sentindo às vezes impotentes, confusos e até desanimados, a esperança faz toda a diferença em nossa vida. Contudo, o que é a esperança? O que significa ter ou viver a esperança?

No mês de setembro do ano que passou, celebramos o centenário do grande pensador da educação Paulo Freire. Em sua obra “Pedagogia da Esperança” de 1992, lemos: “É preciso ter esperança, mas esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. ‘Ah, espero que dê certo, espero que aconteça, espero que resolva, espero que consiga’. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir. ‘Esperançar é ser capaz de buscar o que é viável para fazer o inédito, esperançar significa não se conformar’. Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com os outros para fazer de outro modo…”.

Na carta aos Romanos, o apóstolo Paulo para encorajar a comunidade, lembra a fé de Abraão: “Esperando, contra toda esperança, Abraão teve fé e se tornou pai de muitas nações” (Rom.4,18). São palavras bastante fortes, “esperando contra toda esperança”, ou seja, mesmo diante de todas as evidências contrárias, é preciso acreditar, confiar. No caso de Abraão, tratava-se de algo humanamente impossível. Como sendo ele tão idoso (80 anos) e a sua esposa estéril, conseguiria ter um filho e uma descendência numerosa, como o Senhor lhe prometia? Apesar de toda a sua fé, nada foi fácil para Abraão. Houve momentos de dúvidas, desconfortos, lamentações. Muitas vezes o silêncio de Deus o fez sentir-se sozinho, cansado. Entretanto, no coração de Abraão calou sempre mais fundo a sua confiança na fidelidade de Deus. É essa mesma confiança que devemos pedir a Deus todos os dias, para sermos capazes de ler tudo o que acontece, seja em nossa vida pessoal ou à nossa volta, numa perspectiva de fé e, não permitirmos que nada nos roube a esperança.

Há algum tempo, em uma de suas catequeses, dizia o Papa Francisco: “A nossa esperança não é um conceito, não é um sentimento, não é um telemóvel, não é uma pilha de riquezas, a nossa esperança é uma pessoa”. Dela, dizia o Papa, “não se deve dar razões a nível teórico, com palavras, mas sobretudo com o testemunho da vida, e isto em âmbito interno da comunidade, como também fora dela”.

Jesus, “o Verbo de Deus que se fez carne e habitou entre nós”, é a nossa esperança viva, “esperança que não nos engana”. Como Ele mesmo disse em certa ocasião, “não se acende uma lâmpada para escondê-la debaixo de uma vasilha, mas para colocá-la no candeeiro, a fim de que brilhe para todos” (Mt.5,15). Portanto, a esperança viva que habita em nós, não pode permanecer guardada, escondida, deve ser necessariamente comunicada em forma de presença, empatia, coragem, compaixão, misericórdia, solidariedade, ternura, mansidão… Por isso é que Pedro em sua primeira carta nos interpela a estarmos “sempre prontos a dar ao mundo a razão de nossa esperança” (1Pd.3,15).

Neste novo ano que estamos iniciando, estejamos atentos para não fazermos das falsas esperanças que o mundo nos apresenta, ou seja aquilo que é efêmero, passageiro, transitório, objeto da nossa esperança. Pelo contrário, dia após dia, procuremos reavivar a nossa esperança, encorajando-nos e ajudando-nos uns aos outros à uma alegre e renovada fidelidade a Jesus e ao Evangelho.

Fraternalmente, em Cristo,

Pe. Ademir

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